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terça-feira, 15 de setembro de 2015

VAMPIROS DE VERDADE ??


TRES VAMPIROS DE VERDADE
 
FALAM SOBRE
SANGUE,
DESEJO E
FOME.



Falamos com três vampiros de verdade sobre sangue, desejo e fome



Vampiros existem.
 
Eles não brilham no sol, mas ficam doentes se não se alimentam, e a pele deles provavelmente é melhor que a sua.
 
Sugadores da vida real são palestrantes, programadores e artistas que podem estar sentados do seu lado no metrô.
 
Como a gente tende a ser muito puritano, eles têm medo de revelar seu status de vampiro para seus médicos, que estão encorajando o público a aceitar mais isso;
 
assim, esses seres diferentes e seus doadores podem discutir suas trocas sanguíneas com o pessoal da saúde.


Para saber mais sobre isso, saí numa caçada a vampiros. Conhecia Galatea*, uma vampira sang de 29 anos de Londres, que sofre com a sede de sangue caso não se alimente. Sang é uma gíria para sanguinária, o que quer dizer que ela se alimenta de sangue real, diferentemente dos que preferem energia e elementos psíquicos.

"Muita gente coloca os vampiros psíquicos em sua própria categoria, mas isso é uma solução prática para quem consegue usar essa habilidade. O que um vampiro procura é energia. Que é o que realmente há no sangue", me explicou Galatea.

Também falei com Pixie, uma usuária de sangue e energia de 22 anos de Seattle, e Arycin, um vampiro político de 25 anos de Long Island, que atualmente está se sustentando de energia do cosmo, mas que gostaria mesmo de arranjar um doador de sangue.

Arycin explica que a comunidade sang local é um saco; então, se algum vampiro "no armário" de Long Island estiver lendo isso, se revele nos comentários.


vampiro
VICE: Oi, Pixie. Como é seu estilo de vida vampiro?

Pixie: Tenho dois estilos de alimentação. Primeiro, sou uma vampira de energia. Eu me alimento do excesso de energia ao meu redor. Geralmente, se faço isso com algumas pessoas em vez de [fazer] com um grande grupo, essa pessoa ou pessoas acabam ficando letárgicas. Alimentar-se em excesso de uma única pessoa, pelo menos na minha experiência, pode levar a uma depressão leve. Logo, você tem de tomar cuidado para não se alimentar muito de um só indivíduo.

O segundo estilo é mais tradicional, o sanguinário. Sangue. Geralmente, vampiros têm apenas um estilo de alimentação e, se não se alimentam, ficam letárgicos, preguiçosos e imóveis. Tenho o benefício de ter um segundo estilo de alimentação; então, isso não acontece comigo com frequência. É difícil achar uma vítima disposta – odeio dizer vítima, um sujeito disposto – que vá deixar você se alimentar através do sangue e também passar por testes para garantir que o sangue é seguro.


Se você não se alimentou, isso fica visível?

Sim, é bem visível. É muito parecido com uma pessoa que não come há dias.


Como você descobriu que era vampira?Vampiros compartilham um ponto em comum, seu despertar. Isso é muito diferente do que é mostrado na ficção. Meu despertar aconteceu cerca de cinco anos atrás. Acordei em frente à geladeira, rasgando um saco de hambúrgueres crus. Foi um choque para mim, eu não tinha conhecimento disso antes.
 
Como você se envolveu com a comunidade vampira?Sou uma criança da era digital. Pesquisei na internet e encontrei outras pessoas que também tinham isso. Hesitei em chamar isso de vampirismo no começo. Fiquei com medo do que as pessoas poderiam dizer: "Você está confusa" ou "Você está vivendo uma fantasia". A internet ajudou muito a encontrar pessoas com experiências similares à minha.
 
 
Você pode falar para mim sobre como funciona o processo de se encontrar um doador/vítima e o processo de se obter o sangue? Qual é a etiqueta?Muitas pessoas têm dificuldade para encontrar um doador por causa do ceticismo que existe quanto a isso. A melhor coisa é a internet. Encontro muitas pessoas confortáveis em doar sangue, mas que não estão dispostas a fazer um teste de DSTs para provar que seu sangue é seguro. Há alguns métodos para se obter isso. Algumas pessoas preferem usar um bisturi cirúrgico porque é mais fácil fazer isso com segurança. Outros usam métodos mais obscuros porque não têm dinheiro. Alguns compram aquelas lancetas usadas por diabéticos.


Que delícia, hein?! Foto via usuário do Flickr Kenny Holston.
 
 
VICE: Você consome sangue humano?Arycin: Não tenho ingerido sangue humano ultimamente, mas estou no mercado. Sei que Nova York tem uma cena muito mais movimentada que Long Island; logo, é mais difícil para mim.
 
 
Se sangue humano não está disponível, você pode se alimentar do seu próprio sangue?Não! Você nunca se alimenta do seu próprio sangue. Regra número um. Isso não te faria nenhum bem. Tirar de onde você não tem pode causar prejuízos físicos para o seu corpo.
 
 
Então, quando não há sangue humano disponível, do que você se alimenta?Vou com o cosmo. Passo a maior parte do tempo estudando a metafísica do universo e física teórica sobre como o universo funciona. É isso que uso. É uma forma diferente de energia, é algo muito mais suave, que te sustenta por mais tempo. Eu não poderia me alimentar só de uma pessoa – eu a queimaria num dia. Ela ficaria doente.
 
 
A energia de uma pessoa afeta a qualidade do sangue dela?A qualidade da energia tem a ver com muitas coisas. Emoções que a pessoa está sentindo, por exemplo. Geralmente, se a pessoa está se sentindo negativa ou tem um ego muito grande, a energia tende a ser muito confusa e às vezes não tem a cor certa. Energia confusa costuma ser esverdeada, amarela. Muita gente tem isso por causa da condição humana. Elas querem, querem e querem. Às vezes, elas querem demais.


Foto cortesia de Galatea.
 
 
VICE: Fale um pouco sobre você. Você consome sangue humano?Galatea: Sou uma vampira moderna. Despertei quando ainda era bem jovem. Isso é parte de quem sou. É uma coisa muito bela e espiritual. Consumo sangue humano real. Ah sim, já li todas as bobagens médicas sobre humanos não terem uma necessidade médica ou psicológica de sangue. Pessoalmente, não ligo para o que a medicina e a psiquiatria modernas têm a dizer sobre isso. Sei o que preciso para me manter saudável. Testei a teoria inúmeras vezes em 20 anos. Conheço outros como eu. Francamente, o mundo médico pode ir para o inferno. Eu sei o que sou. Sou uma vampira. Não caço inocentes. Não saio por aí rasgando gargantas. Sou bem madura com o que faço. Só bebo de doadores.
 
 
Como você descobriu que era vampira?Minha fascinação por sangue começou quando eu era menina, no meu primeiro beijo. Beijei o garoto com muita força e o mordi no lábio. Foi um instinto muito natural mordê-lo; por alguma razão, eu associava sensualidade a sangue. Não preciso nem dizer, ele não me beijou de novo. Mas fui fisgada e queria mais. Conforme o tempo foi passando e fui conhecendo colegas fanáticos por vampiros, isso foi ficando mais fácil – e eventualmente encontrei meu parceiro. Quando transamos, consagramos nosso amor compartilhando sangue.
 
 
Se não se alimenta, você experimenta efeitos negativos na sua saúde?Com certeza! Há algo que chamo de "fúria por sangue", que é a resposta do vampiro sanguinário a uma necessidade não atendida. Os sintomas podem incluir fúria não provocada, agitação extrema, imprevisibilidade, dor física e agitação metal. E, se não tratada, depressão severa, apatia e até tendências suicidas. Quando não me alimento, fico doente, emocionalmente instável, apática, com fome e desagradável. É difícil sair da cama, quero dormir muito – fico com raiva e irritada. As pessoas me chamam de tensa e hiperativa, [mas] minha capacidade de atenção despenca. Ou vou na direção oposta e nada me atrai. Em certa ocasião, experimentei um estado de dor e confusão mental tão profundo por não me alimentar que me vi caída no chão, tremendo de agonia, mordendo meus pulsos, me arranhando, entre outros tipos de comportamentos psicóticos. Quando me alimento, fico menos temperamental e muito mais saudável.
 
 
Como é o processo de se encontrar um doador?Pode ser bem difícil. O principal problema é que nós, vampiros, geralmente fazemos segredo, para nosso próprio bem, quando se trata de encontrar nossas refeições. Se um doador não pode te ver e saber que você é um vampiro, como ele vai te abordar e se oferecer? Meu conselho: se um vampiro quer um doador, seja mais público sobre [o fato de] ser um vampiro! Os doadores não vão aparecer se não souberem que você é um vampiro. Agora, claro, não quero dizer que você tenha de contar para TODO MUNDO, [e sim] apenas algumas pessoas escolhidas... o mais provável é que elas virão até você.
 
 
Você tem um só doador ou vários?Doar pode ser exaustivo. Assim, tento não me alimentar do mesmo doador com frequência. Deixo minhas opções em aberto, já que doadores podem desenvolver um apego por seu vampiro e até se tornarem possessivos. Muitos doadores relacionam a sensação depois de ter alimentado seu vampiro com o relaxamento após o sexo ou uma meditação profunda.
 
 
Que práticas de segurança os vampiros usam para se certificar de que o sangue é seguro?Tenho muito cuidado. Meus doadores fazem testes regularmente para eu ter certeza de que não carregam doenças, como HIV e coisas assim. Não quero pegar nada. Se o doador não quiser fazer o teste de sangue, então ele não se importa realmente com a saúde de seu vampiro.
 
 
Há outras maneiras de se alimentar que não pelo sangue?Qualquer vampiro que já passou por um surto de fúria por sangue sabe que, às vezes, não há substituto. Porém, quando a necessidade é muito grande, há substitutos que muitos membros da comunidade acham úteis, mesmo que não 100% efetivos. Nada funciona sempre. Só sangue mesmo. Alguns substitutos funcionam melhor que outros. Por exemplo: suco de romã, chocolate meio amargo, bife mal passado, morcela, extrato de levedura.
 
 
Para você, existe um elemento de fetiche ou mesmo sexual em se alimentar?Com certeza! Comigo, isso aconteceu organicamente uma noite. Eu estava transando. Sexo não parecia o suficiente, e nenhuma emoção era realmente suficiente. Nada parecia realmente... havia sempre algo que eu queria, [que era] me sentir mais conectada com a pessoa, [ser] mais honesta. Então, peguei uma faca e cortei o peito dele. Esfreguei minhas mãos nisso e experimentei. Foi meu instinto natural: eu estava livre. E ele me cortou também. O sangue escorreu pelo meu peito e nós tivemos essa troca de algo. Cobertos de sangue, sentindo meu coração acelerar. Era algo perigoso e vivo. E, de repente, isso me pareceu muito mais honesto do que essa coisa de "sexo" poderia ser.
 
*Alguns detalhes da identidade dos entrevistados foram deixados no caixão.

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