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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SECA NORDESTINA & ESTIAGEM SUDESTE



Entenda o que diferencia

a seca nordestina e

a estiagem no Sudeste

 
 

Especialistas analisam a situação nas duas regiões do país e orientam sobre o que podemos aprender com quem já vive com a falta de água desde sempre

 
 
iG Minas Gerais | JOSÉ VÍTOR CAMILO |
GERAL - BETIM - MG.
GERAL - BETIM - MG. SECA - CRISE DE AGUA - LAGOA VARZEA DAS FLORES - FALTA DE CHUVA
Na foto: marrecos  e  Gado vai a beira da Lagoa Varzea das Flores em Betim para beber agua, alem da falta de agua muita sujeira e encontrada ao redor da lagoa.  3/2/2015
FOTO: JOAO LEUS / OTEMPO  -
João Lêus
GERAL - BETIM - MG. GERAL - BETIM - MG. SECA - CRISE DE AGUA - LAGOA VARZEA DAS FLORES - FALTA DE CHUVA Na foto: marrecos e Gado vai a beira da Lagoa Varzea das Flores em Betim para beber agua, alem da falta de agua muita sujeira e encontrada ao redor da lagoa. 3/2/2015 FOTO: JOAO LEUS / OTEMPO -

O primeiro registro da seca no semiárido brasileiro, que engloba a maior parte da região do Nordeste do país e o Norte de Minas Gerais, foi feito ainda no primeiro século após o descobrimento.
 
Desde então, milhares de pessoas já sofreram com a falta de água e cada vez mais a região vem se adaptando e buscando formas mais dignas para os que vivem em meio à ausência de água. 
 
 
Diante da crise hídrica que a região Sudeste do país vem enfrentando nos últimos meses é inevitável comparar as duas situações.
 
Para isso, O TEMPO ouviu um engenheiro hidráulico, um ambientalista e um meteorologista, que tratam sobre as diferenças entre as secas e as soluções que foram aplicadas no semiárido e que também poderão auxiliar nestes tempos difíceis que vivemos. 
 
 
De acordo com o meteorologista Heriberto dos Anjos, do instituto TempoClima PUC Minas, a diferença principal entre as duas secas se dá por conta da localização.
 
 
"O Sudeste está em uma posição mais latitudinal, que é mais propícia às chuvas. O Nordeste sofre mais com a ação do fenômeno climático El Niño, consequência das águas aquecidas no oceano Pacífico Equatorial, e que tem sido predominante nos últimos oito meses", explica.
 
 
O período chuvoso no Sudeste se dá pelas características do verão. Com o dia mais longo o calor provoca um aumento na pressão atmosférica e gera um grande número de precipitação.
 
 
"O principal causador de chuva para nossa região são as passagens das frentes frias, que formam o fenômeno de Zona de Convergência do Atlântico Sul, com chuva durante vários dias seguidos. Ainda não se sabe o porquê disso estar acontecendo agora, se é por causa do desmatamento da Amazônia, por exemplo. O que temos é que a alta subtropical está mais posicionada para o oceano, bloqueando a frente fria e gerando o que chamamos de veranico, estiagem de 7 a 15 dias", finalizou.
 
 
Para o professor de engenharia hidráulica e recursos hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Rafael Palmier, os problemas do sertão nordestino ainda estão longe de serem completamente solucionados, mas o que tem sido feito já serve de exemplo para a nossa região. "São problemas diferentes, já que lá se trata de levar água para pequenas populações dispersas em uma longa área e aqui se trata em garantir o fornecimento para grandes aglomerações de pessoas em um único espaço", explica. 
 
 
 
Para ele, existem duas formas de reduzir a escassez hídrica: aumento de oferta e diminuição de demanda.
 
 
A primeira delas se resume basicamente a medidas como transposição de água de uma bacia para outro local (como a do rio São Francisco),
 
captação de água da chuva em cisternas e
 
perfuração de poços artesianos,
 
 
sendo que a última não é muito utilizada no Nordeste por conta de água salobra (com maior presença de sais), impróprias para o consumo.
 
 
"Aqui em Minas, no Rio e também em São Paulo já está se falando em transposição de águas. Entretanto, isso se trata de algo mais demorado. No Nordeste, um programa do governo federal que vem tendo sucesso é o que disponibiliza cisternas que captam a água que cai no telhado das casas das pessoas e que também seria de boa aplicação aqui na nossa região", disse.
 
 
Entretanto, diferentemente do semiárido, essa água captada da chuva no Sudeste dificilmente seria usada da mesma forma que pela população que enfrenta a seca durante toda a vida, já que para eles se trata de sobrevivência.
 
 
"Aqui seria mais para limpeza, molhar plantas e afins. Não para consumo e higiene pessoal", garante Palmier. 
 
 
Segundo o engenheiro, a quantidade mínima de água a ser consumida por pessoa diariamente indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) seria de 100 litros por dia.
 
As cisternas costumam ter uma capacidade média de 16 mil litros e, com isso, um dispositivo para uma única pessoa daria para 160 dias (5 meses). "Normalmente ela é usada por uma família inteira no período de seca. No Gabão as pessoas vivem com 4,5 l por dia", disse. 
 
 
A segunda forma de solucionar a escassez hídrica se trata da diminuição da demanda, que consiste basicamente no que já está sendo adotado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), visando a redução no consumo.
 
Em Belo Horizonte, o consumo médio diário por pessoa está em cerca de 200 litros, ainda de acordo com Palmier.
 
"A Copasa pede economia de 30%, quando com base na indicação da OMS poderia haver uma redução de 50% no consumo", garante. 
 
 
No Nordeste, medidas como fechar a torneira para escovar dente, se ensaboar com o chuveiro fechado e ficar atento à vazamento parecem medidas absurdas, já que muitos deles praticamente não tem acesso a nenhuma das facilidades que um sistema de fornecimento de água garante para nossa população. 
 
 
 
 
 
"O Nordeste está mais preparado"
 
Para o ambientalista e idealizador do projeto Manuelzão, Apolo Heringer, a região Nordeste está mais preparada que a Sudeste por serem donos do maior sistema de açudes do mundo, sendo que alguns estados reúnem 35 bilhões de metros cúbicos de água. "Entretanto, esse é um bem para poucos, já que os açudes perdem muita água por evaporação sem ser distribuída para a população que realmente precisa", argumentou. 
 
Ainda segundo ele, as plantações de cana de açúcar que tomaram conta da região desde o início da colonização acabaram com a maior parte dos rios, transformando bacias permanentes em intermitentes.
 
 
"Por causa desses danos que contribuem para a seca, o Nordeste tem outorga limitada. Enquanto isso no Sudeste, que nunca viveu com esses problemas, a água é extraída praticamente gratuita e ilimitadamente", afirmou Heringer sobre a concessão para retirada de água de lençóis freáticos ou rios por parte de pessoas e empresas. 
 
 
O ambientalista afirma que enviou à presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano passado, uma proposta para aumentar a infiltração da água no solo na região sudeste, aumentando assim o nível dos lençóis freáticos.
 
 
"Ainda não recebi nenhuma resposta sobre o assunto.  A proposta prevê pequenas obras para retardar o caminho da água. Funciona assim: vai colocando obstáculos, como pedras, forçando a água que corre a parar e se infiltrar no solo. Isso deveria ser adotado juntamente com o não desmatamento, que é o mínimo para manter o funcionamento do ecossistema", explicou.

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